sábado, 4 de janeiro de 2014

O Segundo Sexo - 1949




O Segundo Sexo , de Simone de Beauvoir, é sem dúvida alguma uma das principais obras de referência nos estudos sobre mulher e relações de gênero. Publicado originalmente na França, em 1949, quando a Europa ainda se recuperava das feridas abertas pela Segunda Guerra Mundial, o livro é um amplo tratado sobre a “questão da mulher” na perspectiva existencialista. Apresentado em dois volumes, faz a crítica, no primeiro, ao determinismo biológico, às abordagens psicologizantes e ao materialismo histórico, argumentando que mulher é uma construção social, historicamente determinada, construída no pensamento ocidental como “o outro”. Iniciado com a famosa frase, “não se nasce mulher, torna-se mulher”, o segundo volume analisa como se dá esse “tornar-se” na França do pós-guerra, e como se manifesta a subordinação da mulher nesse contexto.

Note-se, porém, que em O Segundo Sexo Simone de Beauvoir não poupa críticas sequer às feministas da época. Mas não hesitou em declarar-se “feminista” na década de 70, até “feminista radical”, como referiu em entrevista ao LeMonde:

“eu sempre disse que era feminista na medida em que feminismo, para mim, significa que eu reclamo uma identidade de situação entre o homem e a mulher, e de igualdade radical entre o homem e a mulher”.

Engajando-se avidamente no Movimento de Libertação da Mulher da França, assinou, inclusive, o manifesto em favor do aborto que causou grande controvérsia nos meios acadêmicos franceses.
Já em O Segundo Sexo, Simone aborda questões bastante polêmicas ainda hoje, a exemplo da desconstrução do “mito da maternidade” como destino feminino. Nessa perspectiva, Simone de Beauvoir contrapõe-se à antropóloga americana Margaret Mead, cuja obra, Macho e Fêmea, da mesma época, faz o “elogio da maternidade”, com base numa perspectiva liberal, culturalista.

Não foi, então, por acaso que O Segundo Sexo teve maior impacto, sendo traduzido para mais de 30 idiomas e publicado em vários países, constituindo-se, ainda hoje, em alvo de críticas e fonte de reflexão e inspiração feministas por todo o mundo.
De fato, apesar de ser escrito para a geração de mulheres que vivenciou a Segunda Grande Guerra, O Segundo Sexo fala também às gerações posteriores, mantendo-se bastante atual em grande parte de suas considerações e análises. Isso não implica em dizer que, nessas últimas cinco décadas, o pensamento feminista não tenha avançado significativamente. Ao contrário, desde a retomada do Movimento nos anos 60 e, mais particularmente, a partir de meados dos anos 80, novas formas feministas de pensar e analisar as relações de gênero e a condição feminina têm tido lugar.

Em O Segundo Sexo, não poderia ser diferente, Simone foi abundante e múltipla: nas formas de expressão escrita – filosofia, literatura de ficção (romances, contos), ensaios, manifestos políticos, memórias; nas temáticas – em que o ser mulher e ter uma idade permeia trajetórias ou tangencia essa produção toda; e até, enquanto esteve viva, nos seus exemplos pessoais, no reflexo das representações do seu “eu” vanguardista no nosso quotidiano.
Os trabalhos, aqui, diretamente sobre O Segundo Sexo e/ou outras produções de Simone de Beauvoir, que constituem a Parte I deste livro, ecoam essa multiplicidade exatamente na diversidade de enfoques: vão do paradigma filosófico subjacente às suas práticas de vida e de expressão teórico-ética ao confronto com as teorias e a crítica feministas (na conferência de Heleieth Saffioti e no texto de Raimunda Bedasee), às comparações possíveis e diretas com outras escritoras, sua contemporânea Margaret Mead e nossa contemporânea Camille Paglia, passa pelo debate específico sobre a dupla questão radical do aborto e da violência doméstica até interpelar, ainda, a mestra sobre questões de gênero e idade e despedir-se  com carinho.
Valendo registrarem-se, ainda, as diferenças de expressão e “temperatura” afetiva e geracional nas referências das diferentes autoras: algumas a “Simone”, outras a “De Beauvoir”...

Leia em PDF "O Segundo Sexo"

Nenhum comentário:

Postar um comentário